Você é tipo aquela minha surpresa boa.

05/03/2018

Mais uma vez o despertador toca. Rolo para um lado e abraço meu travesseiro. E Durmo. Alguns minutos depois, minha mãe aparece na porta e pergunta se eu estou atrasado. Levanto com raiva de mim mesmo por não poder ficar mais um tempo ali, aconchegado às minhas cobertas. É pedir muito para que as coisas sejam 10% mais fáceis? Acho que sim. No ônibus, não tem lugar. Grande novidade... Nunca tem. Me sento no chão mesmo, perto da porta, abro minha mochila e começo a ler meu livro enquanto escuto músicas que se encaixam estranhamente naquele romance melodramático que me coloca ainda mais pra baixo. "Por que eu não consigo algo assim?" Desço do ônibus e cai a fixa de que terei que fazer as mesmas coisas, ver as mesmas pessoas, mesmos cheiros, gostos e chateações de sempre. As horas passam a passos lentos, mas finalmente é hora de voltar para a minha casa, minha cama e minhas distrações. Repito o processo ao ler o livro, mas dessa vez as músicas estão mais melancólicas que o normal. Subo a rua e vejo um muro caído por causa da chuva na noite passada, nem acredito que o vento pôde fazer isso. Como pode ser? Uma coisa tão simples causar tanta ruína. Mas, a resposta logo vem: "Se foi possível com meus sentimentos, coisas intangíveis na alma, porque não com algo físico?" Muitos pensamentos me abarrotam durante o dia.

 Fico em casa até anoitecer, e saio para dar uma volta ouvindo alguma coisa que não me faça parar no meio do caminho e chorar. E encontro um antigo amigo. Ele está encostado no muro, conversando com pessoas que, nessa altura do campeonato, eu não ousaria fazer amizade. Visivelmente pálido, ele acena a cabeça pra mim com um meio sorriso no rosto, e os outros acenam também. O cheiro no ar não é dos mais agradáveis. Passo direto e ele me segue, me pergunta como vão as coisas e o que eu ando fazendo ultimamente. As respostas saem rapidamente, afinal são sempre as mesmas: "Tudo indo, e você sabe, nunca faço nada demais". Uma breve e fina chuva se inicia, logo coloco o capuz da camiseta e ele me segue em silêncio, jogou o cigarro fora, pois sabe que eu detesto. Não ouso olhar para a cara dele. Mas, sei que ele me olha. Ele me pergunta se eu acho estranho andarmos juntos depois do término. Eu digo que sim. Não consigo mentir, e fico vermelho. Ele pára e volta para seus amigos. E eu continuo andando sem olhar para trás. Queria tocá-lo. E sei que ele também queria que eu o fizesse. Mas agora sei que nem tudo o que queremos, realmente é bom para nós. 

2 Semanas depois...

Mais uma vez o despertador toca. Rolo para um lado e abraço meu travesseiro. E Durmo. Desta vez ninguém me acorda. Depois de algumas horas eu acordo sozinho e me levanto. Saio pela porta e vou à padaria mais próxima da minha casa. Durante minha caminhada me distraio perdido em meus pensamentos e acabo errando o caminho. Tenho que ir à outra. Vou a passos curtos e olhando para o chão. Com minha blusa de frio favorita caminho esquivando meu rosto de olhares curiosos. Quase lá eu acabo trombando com um rapaz. Ele é alto e tem cara de alguém que não gosta de levar esbarrões na rua. Peço desculpas desesperado, mas ele só abre um sorriso. Ele pergunta se eu estou bem, expressando muita gentileza. Digo que bem não seria a definição certa e ele me acompanha até a padaria. Até hoje eu não o encontrei. O procuro desde aquele dia. Continuo indo à padaria no mesmo horário. Sempre andando na mesma calçada, mas ainda não o encontrei. 

5 dias depois... 

Hoje perdi o ônibus. Estava chovendo e estava sem guarda-chuvas. Entrei no ônibus ensopado e adivinha quem estava lá? O garoto desconhecido, sentado, seco. Olhou para mim com o mesmo sorriso. Havia um lugar vago ao seu lado. Sentei lá tentando não molhá-lo. Conversamos sobre a chuva para começar o diálogo, estava com frio e de alguma forma, a voz dele, a nossa conversa me aqueceram. Tirei a mesma blusa preta de sempre, encharcada e coloquei na cadeira da frente. Conversamos muito esse dia e ele me deu a blusa de frio dele. Trocamos números de telefone. Agora vou ser obrigado a vê-lo de novo, para devolver sua blusa de frio, o que na verdade não é nenhum sacrifício. 

  2 Dias depois...

Hoje é um dia de sol. Ou pelo menos foi o que eu pensei quando acordei. Só estava claro. Mas as nuvens negras estavam chegando pelo norte. Estranhas. Perguntei se ele estaria em casa, para que eu pudesse devolver sua blusa e ele disse que sim. A propósito: Ele se chama Fernando. Chegando lá eu entreguei sua blusa e as nuvens já estavam pairando acima de nós como se nos observasse. E então com um estrondo começou uma chova forte. Uma tempestade. Ele me puxou para dentro e disse que se quisesse poderia ficar até ela parar. Então eu entrei. Fiquei lá sentado no sofá com ele. A cabeça não desviava da tela. O que era aquilo que estava passando? Uma série sobre uma cabine de telefone azul? Olhei pra ele que me encarava, voltei os olhos pra tela, corado, e torcendo pra que a tela azul tornasse meu rosto de outra cor. A chuva caía lá fora e ele chegou mais perto de mim e tocou meu ombro. Amoleci e ele percebeu. Depois disso nada mais foi dito, ou perguntado. Ele apenas tirou meus óculos e me beijou. Quando parou de chover, minha boca ardia. A eletricidade pairava no ar. Com um sorriso nos despedimos e eu saí pisando nas poças de água com um sorriso incontrolável no rosto. Quando virei a esquina lá estava o meu ex. Meu sorriso vacilou, mas não deixei de sorrir, e ele sorriu de volta. Ao passar perto cumprimentei ele e seus amigos. Ele me seguiu novamente. Fomos andando e conversando normalmente. Na esquina da minha casa ele parou e pegou no meu braço. Se fosse outro dia... outro tempo... tinha amolecido. Virei pra ele e disse que andar com ele não era mais estranho. Mas que agora outra pessoa fazia meu sorriso bobo.

- Davi

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